Das Lutas
Coletivo Autônomo de Mídia
Me roubaram o futebol

Texto livre por Mariana Corrêa dos Santos*

Antigo Maracanã lotado em dia de jogo, em foto aérea sem nome do autor.

Antigo Maracanã lotado em dia de jogo, em foto aérea sem nome do autor.

“Porque não somente a dignidade de várias pessoas está sendo usurpada na cara dura, é a democracia que o futebol representava que está sendo massacrada”

Sabe, eu fiquei aqui pensando como o futebol tá no coração da minha família.
Meu bisavô foi um dos muitos que ajudaram a construir o Maracanã, comprando cadeiras perpétuas. Meu avô ia ver o Fluminense jogar, era um apaixonado pelo tricolor.
Mexeram no Maraca todo, mexeram no nosso Maraca, e nós não podemos entrar.

É estádio pra inglês ver.

As cadeiras perpétuas precisam pagar uma regularização ABSURDA pra poderem ser “desbloqueadas”. Mas, como disse minha prima, eles nunca iam regularizar nada pra gente poder entrar na Copa sem pagar, com os cartões das cadeiras. E ainda falta o sorteio dos lugares. E as cadeiras maravilhosas do meu biso podem parar lá na casa do cacete.
E ademais, não importa, não é mais o Maracanã.

Sem arquibaldos e geraldinos, não existe mais o Maracanã que cresci indo ver o Flamengo jogar. Ali era uma democracia, uma loucura maravilhosa. Tinha gente de tudo quanto era lugar, todos malucos por futebol.
Eu mesma cansei de ir de geral com o melhor amigo do meu irmão, que é um homem enorme e me protegia. Inevitável era o banho de substâncias … bem, banhos nada agradáveis. Mas correr atrás da jogada era uma diversão.

Aí vejo as manifestações contra o aumento de custo de vida, modificações do patrimônio público, remoções compulsórias que a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas vem trazendo, sendo duramente reprimidas pelo aparato de violência do Estado e me dói o coração.

Porque não somente a dignidade de várias pessoas está sendo usurpada na cara dura, é a democracia que o futebol representava que está sendo massacrada, os filhos da mãe me tiraram o prazer de ver futebol, de torcer.

Eu não consigo simplesmente torcer sabendo que do lado de fora do estádio a polícia está sentando o braço em um monte de manifestantes.
Me roubaram o futebol.

* Mariana é integrante Das Lutas

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