Das Lutas
Coletivo Autônomo de Mídia
COPA PARA QUEM?

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Texto por Mariana Santos*.

Foto por Mídia Informal.

Há uma falsa polarização sendo criada por governistas de que o grito de “Não vai ter Copa” foi criado por uma elite de direita, elite essa que quer retirar o governo do poder com manifestações pelo país. Falam que se colocar contra a Copa é se colocar contra o desenvolvimento do país. Ontem a comunidade Metrô Mangueira mostrou o oposto. Vendo suas casas sendo desocupadas por uma política de remoções completamente ilegítima, os moradores fizeram barricadas de pneus queimados e estenderam uma grande faixa onde se lia: FORA FIFA!

Onde está essa elite de direita, me pergunto, no meio de uma comunidade sendo ocupada por policiais armados, prontos para remover famílias de seus lares e derrubá-los, pois lá está a “marca da besta” na porta ou no muro: SMH (Secretaria Municipal de Habitação). O governo diz: fique calado, aguente sua remoção sem revolta, aguente perder o pouco que tem, aguente sua miséria em silêncio, aguente ficar sem luz e sem água com sensação térmica de 50ºC na cidade do Rio de Janeiro. E ainda tome um tiro ao se manifestar, como o jovem Wellinton Sabino Vieira, 20 anos, que foi morto pela polícia na Mangueira no domingo (05.01.14) e como ocorreu no Morro São João, onde Maykon Adrio do Nascimento Renz, de 24 anos, foi baleado de raspão no peito e no ombro durante um protesto contra a falta de luz na segunda (06.01.14).

E é esse mesmo governo que apoia as ações arbitrárias das forças policias, e endossa remoções forçadas, que quer apontar que qualquer manifestação contra a Copa é coisa de gente que não quer ver o Brasil crescer. Então, onde se encontra a polaridade tão propagada? Pela Copa, estão todos juntos: Dilma, Lula, Sarney, Cabral, Paes… Onde começa a direita e termina a esquerda? Não há polarização certa, quando a lógica presente é a do capital, das empreiteiras, dos megaempresários.

Hoje é a comunidade Metrô Mangueira. Antes foi a Aldeia Maracanã, a Vila Autódromo, o Horto, Vila das Torres, Ocupação Flor do Asfalto, a Restinga no Recreio, e muitas outras. Essa Copa é para quem? Quem pode gritar gol?

#NÃOVAITERCOPA

#NÃOÀSREMOÇÕES

#RIOSEMREMOÇÕES

#COPADADESTRUIÇÃO

 

*Mariana Santos é Das Lutas.

14 Comments to “COPA PARA QUEM?”

  1. Mais uma remoção arbitrária em nome do capital – FIFA, especificamente.

    A gente sabe que estas remoções não começaram agora, e se no momento o interesse é de FIFA e associados, antes havia todo tipo de caso. O direitista Carlos Lacerda “inventou” Vila Kennedy removendo favelas aparentemente apenas para afastar a visão feia da pobreza dos olhos dos ricos.

    Dou um exemplo do Jacarezinho, onde nasci, fui criado e morei até os 34 anos. Embaixo do elevado da linha 2 do metrô que vai para Maria da Graça, em frente à antiga Fábrica da Souza Cruz, havia a comunidade das Malvinas. Por volta de 1997 Foi removida pela prefeitura, com a atuação decisiva da Administração Regional do Jacarezinho. O motivo alegado era de que se tratava de “área de risco”, por sem embaixo do elevado do metrô. Lá se foram os moradores para sei lá aonde. A área das Malvinas virou um estacionamento cujo dono é, justamente, o Administrador Regional da época da remoção. Curiosamente, também foi construída uma creche municipal, onde crianças passam o dia, no que era supostamente “área de risco”. E assim vai.

    Sim, o capital domina; o ser humano está em segundo plano (ou terceiro, quarto, etc, dependendo da ocasião).

    O que questiono é a esquerda engrossar agora um movimento que certamente será instrumentalizado pelas forças retrógradas do país com o intuito de sabotar o único governo que tem a proposta de não deixar o país mais parecido com a Grécia. O governo não está livre de defeitos, muito pelo contrário. Mas acho que o ganho em apoiá-lo é maior que criticá-lo, considerando que as opções de oposição vem com uma proposta que, além, de manter todas as mazelas do atual governo ainda vão trazer recessão, desemprego, arrocho salarial, hegemonia absoluta do capital financeiro, entrega do petróleo do pré-sal a preço de banana sem perspectiva de industrialização nacional, cortes cada vez maiores do orçamento da educação federal até matar de inanição, saúde mais precária sem pelo menos um “mais médicos” para aliviar, sabotagem progressiva dos sistemas de quotas, e submissão total aos Estados Unidos.

    • MCS says:

      Discordo veementemente de que esse governo não vai deixar o país como a Grécia. Ele já está deixando.
      Não apoio um governo que remove ribeirinhos e indígenas em nome de hidrelétricas que mal vão produzir energia, que atrapalha a demarcação de terras em nome do agronegócio, e que esmaga seus cidadãos em nome de magaeventos. Só concordo com uma coisa: o “Mais Médicos” foi a melhor coisa que esse governo fez. Isso eu dou o braço a torcer. Abraço!

  2. […] Texto por Mariana Santos*. Foto por Mídia Informal. Há uma falsa polarização sendo criada por governistas de que o grito de “Não vai ter Copa” foi criado por uma elite de direita, elite essa que …  […]

  3. Guilherme says:

    Há um equivoco nisso. A Elite não está nas comunidades que estão sendo removidas é claro, mas também não está nem se importando com essas comunidades que estão sendo removidas da mesma maneira que nunca se importaram com as tantas remoções que ocorrem há anos nesse País independente de haver copa ou não. O que a elite está fazendo é se apropriar dessa causa que não a importa para parecer que essas coisas só estão acontecendo agora e a culpa é do governo. Perguntem à maioria que está na defesa do #Nãovaitercopa se estão na defesa de uma reforma política que acabe com o financiamento privado de campanha que só favorecem à especulação imobiliária por isso a grande quantidade de desocupações e reintegração de posse como foi o caso de Pinheirinho, sem contar os incêndios “acidentais” assistidos até o ano passado. Não se trata de ala governista como você está querendo colocar, se trata de uma realidade cruel do Brasil que não basta estar no governo para resolver e muito menos melar jogo ou apedrejar estádios. Não se fala do assunto em outros casos, apenas nesse devido a proximidade das eleição que até então parece estar definida!

    • MCS says:

      Não vejo onde está o equívoco.
      Para quem participou efetivamente das manifestações de junho a outubro, sempre ficou muito claro que não há polarização no que diz respeito à Copa. Reduzir o texto ao que fazem as elites não é, de maneira alguma, o contexto do texto. Coloco sim, que uma ala governista vem criando uma “guerra psicológica” pois está claramente assustada com a eleição que aí vem. Basta ver a última nota do PT xingando o Eduardo Campos de maneira infantil e pouquíssimo política. Um ad hominem do início ao fim contra um cara que até pouco tempo era “aliado”. Aliás, ele e Marina devem estar dando pulinhos de alegria, porque o PT acaba de mostrar o quão apavorado está. Ah! E antes que perguntem, eu não voto. Sou contra o sistema eleitoral como um todo. O que não me faz incapaz de analisá-lo. Abraço!

      • Guilherme says:

        Eu assim como os milhares de brasileiros participei efetivamente das manifestações de Junho e Julho e que a partir de certo ponto me retirei devido a desvirtuação de propósitos e o oportunismo da elite, veja, quando falo elite não me refiro a quem tem dinheiro, mas sim àqueles que pensam como elite no pior sentido dessa palavra, pois, entendo que nem todo rico se comporta como elite e nem todo pobre se isenta de agir como elite. Assistimos de longa data tanta manipulação de informação que não consigo culpar o coitado do pobre que se comporta como elite, mas também não consigo me calar ao ler uma pergunta como a sua “Onde está a elite de direita, me pergunto, no meio de uma comunidade sendo ocupada por policiais armados…” Quando eu digo que há um equivoco é justamente nessa sua questão, pois sim a elite de direita está alí, não de corpo presente mas sim da forma mais covarde que é se aproveitando dessa situação! Sei bem sobre a FIFA, sei que se trata de uma entidade capitalista que como muitas outras presentes nesse País não se importa em estuprar a sociedade para obter seus lucros e depois se mandar sem deixar nem sombra de um desenvolvimento social, sei e espero que todos saibamos que para essa copa sair aconteceram sim remoções, desocupações, morte de operários dentre outras barbáries que também julgo inadmissível aqui na África do Sul e em qualquer outro lugar, o problema é que também sei e novamente espero que todos saibam que todas essas coisas não aconteceram apenas depois que foram anunciados Copa e Olimpíadas aqui como querem dar a entender grande parte da mídia dominante, fazer as pessoas acreditarem nisso é aonde está a participação suja da elite de direita que não se importou e continua não se importando com as remoções que sempre aconteceram desde o Plano Pereira Passos no Rio de Janeiro, só aqui temos o relato do Márcio Gonçalves no outro comentário, vide Pinheirinho em SJC, dentre tantas outras Brasil a fora quando não é favela pegando fogo para depois erguerem um Edifício Corporativo. Você assim como eu e qualquer outro cidadão brasileiro tem o direito de estar descontente com o Governo e medidas tomadas por ele, descontente com o PT e qualquer partido, com o que for, podemos escolher ou se abster, pelo menos é o que parece, podemos analisar picuinhas políticas ou deixa-las de lado, ora, “democracia”. O equívoco nisso, e você fique livre para discordar, é diminuir esse debate que gira entorno de desapropriações, remoções e violência contra moradores de favelas e comunidades tratando isso como um caso isolado da Copa que sendo assim é na verdade meramente eleitoral, seja o governo que está bom ou ruim, pois passando a Copa, a eleição, o carnaval, as olimpiadas com manifestação ou sem manifestação e com o governo que estiver esse assunto voltará a morrer e ficar na boca daqueles poucos que não se manifestam apenas de Junho até outubro, portanto não é “guerra psicológica” governista, até porque eu mesmo não sou governista. Caso não haja uma reforma política visando acabar com os elos público privados traçados nos financiamentos de campanhas, não houver um maior controle do Estado sobre a terra urbana, podem fazer o que quiser e podem conseguir muita coisa, menos resolver o problema em questão! Abraço

        • MCS says:

          Entendi! Realmente, não foi minha intenção diminuir o debate sobre as remoções, de jeito nenhum, mas mostrar que com os megaeventos isso se acirrou e ficou mais evidente. Usei o Metrô Mangueira como fato pontual do que anda ocorrendo. É claro que a elite de direita está lá, mas não é uma presença efetiva, não é uma das vozes que grita: Quero Casa e Não Copa! Mas podemos fazer um bom debate sobre as remoções em um outro post. Me disponho a escrever sobre. Agora, quanto à “guerra psicológica” governista, continuaremos discordando, pois me parece muito clara essa apropriação do “Vai ter Copa” (foi criada até uma página no facebook, dê uma olhada) para garantir uma posição eleitoral favorável com os ufanistas e nacionalistas ingênuos em ano de Copa. Abraço!

  4. De onde vejo, de verdade, a FIFA tem pouco a ver com isso. O que é essa entidade? Uma organização mundial (como a internacional socialista já foi) que tem um evento (como o rock in rio é) chamado Copa do Mundo. Para sediar esse encontro, os Estados, por meio de seus representantes máximos e legitimamente (às vezes nem tão legitimamente, como a comunista Coreia do Norte) eleitos, fazem propostas à entidade. Quem conquista o direito de sediar a copa se compromete por contrato a tomar uma série de providências logísticas e estruturais. Foi o que aconteceu. Desse ponto de vista, a FIFA está apenas cobrando o que foi prometido e acordado. Simples assim. O que pouca gente tem coragem de cobrar e apontar e dizer como assim é sobre porque o PT do então presidente Lula entrou nessa. A resposta talvez não seja, exatamente, algo fácil de encontrar.

    • MCS says:

      Mariel, acho que a grande questão é que a Lei da Copa foi criada com base no que a FIFA deseja. Não é o que os Estados propõem à entidade/empresa/instituição, mas o que essa entidade cobra como fundamental para a realização do evento em Terra Brasilis. Abraço!

      • Vou insistir mais um pouco. A FIFA (que acho uma entidade palha, só pra deixar claro) tem o direito a exigir o que quiser, já que o evento copa é dela, que se trata de uma instituição privada. Ela exige tudo isso que a gente tá fazendo, diz o que deve ser feito, estabelece prazos, fiscaliza, comanda parcerias, escolhe locais, cria protocolos e exigências. Em qualquer terra, brasilis ou não, é isso. Quem quer, quer, quem não quer, tem quem queira. E nós fomos lá e assinamos o contrato. Agora temos que comer com farinha. Outro abraço.

      • MCS says:

        Sim, concordo! Mas não fomos nós, cidadãos, e sim esse estado capitalista opressor que assinou o contrato. E nós é que pagamos todo e qualquer pato desse contrato entre diabo e demônio. Mais um abraço!

  5. Mariel: resta saber se essa série de providências logísticas e estruturais incluem os modos de remoção violenta que estão sendo praticados em nome do evento.

    Chamar a FIFA de organização reduz muito de sua intenções. Algo como empresa (ela se chama de instituição) seria mais coerente: http://esportes.r7.com/futebol/noticias/fifa-vai-ter-lucro-de-r-10-bilhoes-com-copa-do-mundo-20130327.html

  6. lcfdaf says:

    A FIFA é mais do que uma organização: ela é uma mega-empresa, que capitaliza um dos esportes mais populares do mundo, transformando-o ao máximo em mercadoria a ser negociada com corporações dos mais diversos nichos. Isso por si só já valeria como um bom argumento para nos posicionarmos com ceticismo (ou violentamente contra) sempre que soubermos que ela está envolvida em alguma transação do futebol. Não bastando isso: tanto a FIFA como o COI, mas não só, são uma frente do neoliberalismo esportivo que usurpa economias regionais e locais, em nome do interesse de grupos econômicos envolvidos na comercialização do esporte. E ainda: são capazes de avançar por cima de todo o ordenamento jurídico, consequentemente, da Constituição Federal de um país, para melhor adequá-lo a sua dinâmica de exploração. Para o pensamento republicano, não haveria contrato privado que pudesse se arrogar acima de uma Constituição Federal; para o neoliberalismo, qualquer obstáculo deve ser reduzido a pó.

    A resistência como a que estamos fazendo não é só para se discutir a soberania brasileira, o interesse dos mais pobres, a manutenção dos direitos há décadas conquistados – como os de moradia urbana, na CF de 88, justamente para evitar as remoções – mas tb para se opor ao papel que a FIFA desempenha no cenário político-esportivo. Quem disse que o futebol e a Copa devem ser geridos a partir dos interesses da FIFA? Quem deveria compor a FIFA? Por que a direção da FIFA, que não foi eleita por mim nem por povo nenhum, pode dizer como um país deve realizar uma Copa?

    Poderemos estar caminhando para um racha, para novas possibilidades de organizar um campeonato de futebol, quem sabe fazer Copas Populares de Futebol Mundial – como se tentou fazer Olimpíadas populares no século passado, em oposição à realização das mesmas na Alemanha de Hitler.

    Não podemos deixar de querer o que não existe!