Das Lutas
Coletivo Autônomo de Mídia
Criminalização dos Black-Blocs: uma armadilha

por Mariana Corrêa dos Santos*

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“O que precisa ser discutido, e parece esquecido nessa busca por culpados e pela criminalização de novos grupos ativistas anti-sistema, é a violência escalonante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Esse é o debate.”

Observamos nos últimos dois dias, e bem de perto, a criminalização do jovem ativismo anarquista, como outros movimentos também foram criminalizados num passado não muito distante. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, os movimentos do campo passaram por criminalizações similares, invenções midiáticas de invasão de terras “supostamente” produtivas, num claro revide contra a Reforma Agrária pleiteada. Com o auxílio da mídia convencional, esses movimentos foram taxados de vândalos, bárbaros, destruidores e um atraso para o desenvolvimento do país.

O que temos pra hoje são “caixas” e “mochilas” de molotovs confeccionados em garrafas de mesma marca, quase uma produção fabril, colocadas no chão por possíveis policiais infiltrados, ao lado dos Black Blocs que marchavam na Av. Rio Branco. Cenas que foram capturadas em câmera pelas mídias independentes. Esses mesmos infiltrados agem como se “descobrissem” os molotovs, e responsabilizam os grupos anarquistas. Ao reproduzir  novamente o discurso de que esses jovens são os responsáveis pelos conflitos, a mídia convencional só pode partir da presunção de que toda uma população ainda está imbecilizada. É esquecer que, ao custo de muita bomba e bala de borracha, as mídias independentes retiraram o véu de qualquer mentira e armação, e estão acessíveis a quase todos aqueles que buscam informações.

Quem está desde junho nas ruas sabe que os movimentos anarquistas, em especial os Black Blocs, servem de proteção aos manifestantes, pois colocam-se na linha de frente, com escudos e proteções, prontos para devolver bombas aos seus atiradores. Sem essa linha de frente, quem estava na Presidente Vargas no dia 20/06 não teria saído a tempo sem ser pisoteado, baleado, ou fortemente intoxicado.

O que precisa ser discutido, e parece esquecido nessa busca por culpados e pela criminalização de novos grupos ativistas anti-sistema, é a violência escalonante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Esse é o debate. Não pode ser naturalizado uma criança de cerca de 8 anos desmaiada no meio da Cinelândia por intoxicação de gás lacrimogênio. Não pode ser considerado normal que a polícia faça duas linhas fechando a Av. Rio Branco, e uma linha lateral onde obrigatoriamente seria o escoamento, e jogar spray de pimenta em todos que passavam.

A polícia carioca age na surdina, com carros envelopados sem identificação, atirando em manifestantes que já haviam dispersado. Persegue manifestantes por ruas, bairros, longos percursos, atirando bombas em hospitais, em residências, em passantes, bares, praças, deliberadamente, e planejadamente. Não são despreparados, são uma máquina de repressão comandada pelo Estado.

Aos que tem acesso à informação, não permitam que se criminalize mais um grupo social simplesmente por existir e por questionar o poder vigente. É preciso encampar essa luta, é preciso desmilitarizar, desarmar essa máquina de matar. Pois, como bem diz uma das faixas das manifestações: “A mesma polícia que reprime no asfalto é a que mata nas favelas”. E o que vai acontecer quando esse grupo que é a linha de frente das manifestações for criminalizado? As balas vão deixar de ser de borracha no asfalto também?

“É preciso estar atento e forte…”

*Mariana é integrante Das Lutas

63 Comments to “Criminalização dos Black-Blocs: uma armadilha”

  1. Drean Moraes says:

    Entre em contato comigo pelo facebook, procure por Drean Moraes, você vai gostar do convite

  2. Renan says:

    Muito bom ! isso que é um verdade escondida das mídias atualmente.
    Participei de um movimento do BB no maracanã e sei qual o seu real objetivo, que é proteger a população, dispersando bombas, levando balas de borracha se poder, isso que é o objetivo dos BB e não de querer guerriar e afrontar com a polícia, como a mídia insiste, persiste passar isso a população…
    Se eu pudesse lutar sempre que tivesse esses afrontes com a covardia da PM , iria lutar, pois não tenho medo , e a minha coragem diz por mim… o resto é consequência.

    • falou e disse cara parabéns, eu estava na manisfestacao da rio branco dos sindicatos e notei como os gritos dos estudantes dizendo fora pt incomodava o pessoal dos sindicatos a ponto de ver lideres do movimento tentarem agredir os bb por estarem atrapalhando a passeata pois a ideia da passeata era apoiar o governo nossos sindicatos servem ao governo a policia estava agredindo somente os estudantes e não o pessoal que se identificava com os do sindicatos pois estavam todos com abada da sintect, movimento sem terra entre outros sou carteiro fui a manisfestacao e admito que tinham poucos trabalhadores la a maioria era pessoal do sindicato os estudantes eram os únicos q estavam contra o governo ali.

      • Eu estava lá também e me solidarizo com todos aki e lembro das falas dos carros de som incitando a multidão contra os jovens que usavam máscaras, fiquei revoltado e quase fui agredido por “seguranças da Força sindical uma afronta, um absurdo…..

  3. TODA ESTA MANOBRA DE POLICIAIS INFILTRADOS JÁ É DO CONHECIMENTO DAS PESSOAS ESCLARECIDAS, ESTES POLICIAIS SÃO OS MESMOS DE MENTE DOENTIA QUE TIVERAM A BOMBA QUE EXPLODIU HÁ DÉCADAS ATRÁS NO RIOCENTRO.

    • Também sou da época da bomba do RIOCENTRO e estou vendo com muito orgulho essa meninada ir para as ruas do Brasil. Mas também vejo com muita tristeza que a polícia continua embaixo dos sapatos dos poderosos.

  4. Taiagoreis says:

    muito bom o texto…

  5. Josemar Fonseca says:

    “O que se destaca, de mais constrangedor, no anarquismo de estilo de vida atual é seu apreço pelo imediatismo em detrimento da reflexão, por um ingênuo relacionamento íntimo entre a mente e a reflexão. Esse imediatismo torna o pensamento libertário imune às exigências de uma reflexão matizada e com mediações, obstruindo a análise racional e a própria racionalidade.”

    Murray Bookchin

  6. a pm do brasil é o braço direito do exército, ela foi constituida na época da ditadura militar para matar bandidos, não sabe diferenciar gente honesta de gente bandida, não sabe diferenciar ‘povo que lhe paga’ de bandidos de colarinho branco que lhe manda e instrui. no mínimo, a pm não está preparada para merda nenhuma a não ser covarde assassina e corrupta. ela é fruto podre do sistema.

    • Nanie says:

      A policia não pode matar ninguém, nem “honesta” (termo relativo e moralista) e nem “bandido”. A polícia prende, ponto. Mesmo que nós tivéssemos pena capital no Brasil, a execução não seria trabalho da PM.

  7. mamapress says:

    Reblogged this on Mamapress and commented:
    [youtube=http://www.youtube.com/watch?v=-9K21N3W-wY&w=560&h=315]

  8. João Rico says:

    “não temos tempo de temer a morte”

  9. Euler says:

    Pois é… até eu testemunhar a brutalidade da polícia em frente ao palácio, eu tinha raiva dos vândalos. Agora penso que alguns vândalos estão ali porque já foram vandalizados pela polícia. Acho que se eu estivesse no Bar Brasil com meus filhos, ou meus pais, naquela quarta-feira… nem sei. Você passa a ver o governo, o Estado e sua polícia como marginais. É guerra.

    Vale tacar bomba de gás lacrimogênio no meu pai idoso? No meu filho de 3 anos? Acabou a brincadeira. É guerra mesmo. É o escalonamento da violência. É o resultado da COVARDIA ABSURDA que a polícia do Cabral está semeando.

    É a opressão do mascarado fardado, com sua armadura e todo seu aparato, contra os fotógrafos, os vovôs e crianças, as pessoas em seus apartamentos e passantes regulares, além dos manifestantes pacíficos E aqueles poucos “vândalos”. Então tá. Quem semeia vento colhe tempestade. Previsão: a violência nos protestos vai aumentar.

    Põe na conta do Cabral.

  10. rejane says:

    Mariana, no debate: as polícia é violenta e age assim há muito tempo. O que, é claro, não legitima seus atos. O que tem q estar no centro do debate é a não-violência contra todos, é a política de não-violência. A luta do cidadão de classe média não é mais legítima do que a do povo negro, pobre, que sofre essa opressão há nos. A refletir!

    • Mari Santos says:

      Excelente, Rejane.
      É exatamente isso! A luta do cidadão de classe média NÃO É MAIS LEGÍTIMA! Os mortos na Maré não podem ser esquecidos, nada que essa polícia violenta vem realizando pode ser esquecido. Todas as lutas dos cidadãos são legítimas, entretanto. E precisamos problematiza-las.
      Vamos seguindo no debate.
      Abraços.

  11. Dani Tristão says:

    Os Black Bloc não protegeram ninguém na passeata do dia 11 no Rio, muito pelo contrário. Estavam andando bem a frente da manifestação e de repente se viraram em direção a passeata caminhando e encurralando os manifestantes soltando bombas e agredindo as pessoas. Os BB criaram cenas de guerra na Rio Branco. Pelo que pude presenciar eles não estão sendo criminalizados, são de fato verdadeiros criminosos. Foram para as passeatas com nítido propósito de acabar com a manifestação. Vergonhoso!!!!

    • Mari Santos says:

      Acho que há um equívoco em sua análise, Dani.
      Eu estive em todas as manifestações, e em momento algum os Black Blocs, ou os anarquistas que ficam na linha de frente viraram-se e soltaram bombas em manifestantes. Eu estava diretamente acompanhando e fotografando todas as ações do dia 11, e nada que você menciona ocorreu. Essa foto do post foi feita por mim. Estive na frente com eles o tempo todo, indo e voltando.
      Peço que você repense no que escreveu e verifique se as informações que fornece são acuradas.
      Vergonhoso é criminalizar um grupo por ele não ter a mesma ideologia que você.
      Pense nisso.
      Abraços.

    • Bitor Faber says:

      Isso é MENTIRA! O Black Bloc andou junto com a manifestação até os sindicatos vendidos (CUT, Força Sindical, CTB) começarem a executar o hino nacional (símbolo de nacionalismo e alienação) no carro de som. Aí eles se movimentaram para a frente abrindo um espaço de não mais de 20 metros entre eles e o primeiro carro dos sindicatos. Nesse espaço que ficou, a polícia se interpos separando o Black Bloc do resto da manifestação. O BB voltou para não deixar a polícia fazer isso. Quando chegaram na esquina da Rio Branco com Almirante Barroso, viram suspeitos de serem infiltrados “achando” uma CAIXA com 10 molotovs(quem em sã consciencia levaria 10 molotovs na mao da Candelaria até a Almirante Barroso por uma avenida sitiada pela policia?). Quando foram interpelar os supostos P2, os caras reagiram com violência e a PM, como sempre, protegeu os verdadeiros bandidos. Não quero dizer com isso que só tem santinho no meio do Black Bloc, mas como agluém que está indo desde as primeiras manifestações e que começou indo com uma mentalidade pacífica(que a pm tanto tentou que conseguiu destruir) posso dizer que na MAIORIA das vezes o Black Bloc age de acordo com seus principios de Direito de RESISTÊNCIA(violento), muito mais reagindo à truculência da PM, do que agindo violentamente em relação a uma das instituições mais porcas desse paós.

      • Complementando a informação dos companheiros, estava lá também, junto com os militantes do PSOL, PSTU e PCB mais o carro da CSP Conlutas. Desde o início da passeata fiz a leitura de que os 5 primeiros carros de som, todos interligados por um sistema onde tudo o que era falado no primeiro, se reproduzia nos outros, se distanciavam dos partidos de esquerda e movimentos dos trabalhadores da educação, o objetivo era parecer um movimento das três maiores centrais, CUT, Força Sindical e CTB. Mas o mais grave e repugnante foi ouvir dos que integravam o 1º carro, incitarem os manifestantes contra os “mascarados”, dizendo que não tolerariam “bagunça”…..Ora ora, todos que ali caminhavam, estavam por causas justas, pela insatisfação com a politicagem reinante e esses medíocres, parte deles integrantes do PC do B e do PT, se revoltaram quando os Black se interpuseram logo a frente dos militantes de esquerda, que na minha leitura, esse fato aconteceu por ser o único espaço que poderiam ocupar. Pois ainda que sejam um movimento independente de partidos, mesmo os de esquerda, são esses que não os discriminam e respeitam sua luta e entendem como legítima. Os pelegos de plantão então começaram o tumulto e apoiados pela PM iniciaram a pancadaria generalizada. Depois disso a passeata continuou só com os partidos de esquerda e parte dos Block e ao chegarmos na Cinelândia, após uma breve fala de um integrante do CSP Conlutas, iniciou=se o bombardeio de gaz por parte da PM que se alastrou pelo centro, lapa e zona sul. Enfim a luta será árdua, mas o movimento tem é que crescer e não mais parar até a mudança concreta…..

    • Taiagoreis says:

      Vergonhoso é criminalizar um grupo por ele não ter a mesma ideologia que você. [2]

  12. […] Criminalização dos Black-Blocs: uma armadilha | Das Lutas […]

  13. CRISTIANO says:

    Se o estado nos tira o direito de protestar pacificamente e usa da truculencia para nos conter só vai aumentar a fúria dos manifestantes toda açao tem uma reação ! AMANHA VAI SER MAIOR

    • Eduardo Carneiro says:

      Se o estado nos tira o direito de protestar pacificamente, o que nos resta?
      Não considere se render.
      O que nos resta?

      “Está errada a educação que não reconhece na JUSTA RAIVA, na raiva que PROTESTA CONTRA as injustiças, contra a deslealdade, contra o desamor, contra A EXPLORAÇÃO e a violência, um papel altamente formador.”

      ……………………………………………………………………………………………………………

      BANDIDOS NO GOVERNO, RENDAM-SE VOCÊS!

  14. Léo Anarro says:

    anarquistas que levam coqueteis molotov para manifestações pacíficas têm de ser presos mesmo. A polícia têm usado força desproporcional, isso é verdade, mas esses BBs são anarquistas que nem sabem o q querem. Aí vc vem me dizer q os PMs estão infiltrando coqueteis no meio da população. São eles q queimam as lixeiras, quebram os pontos de onibus e saqueiam? no Maracana um PM tomou um coquetel molotov ao vivo, tb foi a PM?
    Esses caras do BB só fazem a parada ser ainda mais violenta, fica a dica “quando um não quer dois não brigam”

  15. Não podemos esquecer que táticas semelhantes foram utilizadas pelos milicos de extrema direita durante a ditadura militar no decorrer dos anos 70.

  16. raul says:

    Está errada a educação que não reconhece na justa raiva, na raiva que protesta contra as injustiças, contra a deslealdade, contra o desamor, contra a exploração e a violência um papel altamente formador.

    Paulo Freire.
    Pedagogia da Autonomia.

  17. Eu como camelo estava na manif,e ao lado quando a policia comecou a jogar gaz, tenho filmagens e tudo e os black nao tiveram nada haver com o inicio,foram os policiais, e mais ,quem foi pra av do chile foram os policias, e o povo,nao os black, eles foram pra cinelandia

  18. henrique marks says:

    eu não estou muito precoupado com as ideologias, quero mais discutir soluções práticas para os problemas do dia-a-dia. Que não deixa de ser uma ideologia, a do pragmatismo.

    Mas, como pessoa que assiste enquanto procura estas soluções, só posso dizer que todos estes movimentos de resistência são absolutamente legítimos, não há a menor possibilidade de aceitar sua criminalização.

    O estado não tem o direito de me agredir ! O estado sou eu, são vocês, somos nós. o estado não são “eles”. Parece que alguns acham que são o estado, e por isso pode usar sua máquina de repressão nos verdadeiros donos. Tenho nojo da polícia USADA desta maneira, porque sim, os policiais são USADOS. Eles não são os culpados, eles são vítimas também.

    Uma pergunta aos movimentos articulados, há outros movimentos que estão trabalhando para cirar projetos de lei de cunho popular, como o ficha limpa ? no meu pragmatismo, vejo um projeto essecial ao país, o FIM da FARRA dos cargos de confiança, verdadeiro câncer deste país, o início de todas as mordomias que muitos estão acostumados.

  19. Ana Abreu says:

    Espero escrever com clareza: é preciso pensar sobre as manifestações em uma visão de processo; quem foi para a rua e atestou o governo “democrático” atuando – através de seu braço repressivo (covarde) – contra manifestações legítimas e populações indefesas, sabe que nem os manifestantes, nem o governo permanecem os mesmos… a luta forja, principalmente, consciências mais profundas das posições pelas quais se luta. Pessoas colocando-se a frente de outras com o intuito de proteção implica já certa organização amadurecendo, felizmente… chega de ir para a rua como cordeiros. Abaixo a ingenuidade porque a estrutura repressiva fez escola, tem preparo e armas; e a força do uniforme continua prevalecendo sobre a origem de classe; mascarando que o embate imediato é explorado x explorado. Não é, historicamente, costumeiro a elite pegar em armas.

  20. Tony Neto says:

    Para sermos didáticos – Perguntas e respostas sobre o Black Bloc
    8 de Junho de 2013 às 17:45
    Black Bloc

    Tabela de conteúdo

    1 O que é um Black Bloc?
    2 O Black Bloc é uma organização?
    3 Por que um Black Bloc?
    4 Onde surgiu a idéia do Black Bloc?
    5 Quantos são os exemplos de Black Bloc anteriores na América do Norte?
    6 Todos os Black Blocs destróem a propriedade?
    7 Por que os membros do Black Bloc usam máscaras?
    8 Quantos anarquistas participaram da “Batalha de Seattle”?
    9 Em que tipo de atividades eles estavam envolvidos?
    9.1 Os anarquistas estavam envolvidos nas seguintes atividades:
    9.2 Táticas e estratégias:
    9.2.1 Libertação:
    9.2.2 Corrente de força:
    9.2.3 Máscaras:

    O que é um Black Bloc?
    É um coletivo formado por indivíduos e grupos de afinidade anarquistas, que se unem para uma ação. A substância do Black Bloc muda de ação para ação, mas os objetivos principais como mostrar solidariedade frente à violência do Estado policial e dirigir uma crítica do ponto de vista anarquista, continuam os mesmos.

    O Black Bloc é uma organização?
    Algumas pessoas têm a falsa impressão de que podem entrar na “Organização Black Bloc”. Não existe uma organização fixa do Black Bloc entre os protestos. Existe o movimento anarquista que sempre esteve lá (há mais ou menos um século). Você pode encarar o Black Bloc como um coletivo temporário de anarquistas, que fazem parte de um todo numa passeata ou num protesto.

    Por que um Black Bloc?
    Existem vários motivos para justificar porque alguns anarquistas formam um Black Bloc nos protestos. Essas razões incluem:
    Solidariedade – um número massivo de anarquistas providenciam cobertura contra a repressão policial e demonstram os princípios da solidariedade da classe trabalhadora;
    Visibilidade – o Black Bloc como a parada gay;
    Idéias – um forma de apresentar o ponto de vista anarquista ao protesto;
    Ajuda mútua e livre associação – mostra o exemplo de como grupos de afinidade podem formar um grupo maior e articular os objetivos em comum;
    Autonomia – um método para impulsionar o movimento além do mero reformismo e dos apelos ao Estado para remediar a injustiça.

    Onde surgiu a idéia do Black Bloc?
    Black Blocs na América do Norte surgiram na época da guerra do golfo(1991). Foram inspirados pelo movimento autonomista alemão da década de 80. Esse movimento era conhecido pelas batalhas urbanas travadas com a polícia, mas também por mostrar uma alternativa radical aos outros movimentos de protesto.

    Quantos são os exemplos de Black Bloc anteriores na América do Norte?
    O Black Bloc não foi inventado em Seattle. Numerosos Black Blocs aconteceram na década de 90. Um dos maiores foi o do ano passado, no Millions For Mumia, o qual tinha entre 1500 e 2000 manifestantes. Esse foi um bom exemplo de um Black Bloc não-violento, o qual tinha como objetivo demonstrar a sua solidariedade com Mumia Abu-Jamal e, lembrar a “esquerda” do movimento, que nós existimos (de fato, vários artigos pós-M4M da imprensa esquerdista ignoraram completamente a presença anarquista do Millions For Mumia).
    Uma breve lista de notáveis Black Blocs:
    1992- Washington D.C., Black Bloc no protesto anti-guerra do golfo. Janelas do Banco Mundial destruídas.
    1992- San Francisco, Black Bloc protesta contra os 500 anos de exploração e genocídio promovidos pelo primeiro mundo.
    1999- Philadelphia, 24 de abril, 1500-2000 anarquistas marcham no Black Bloc durante o Millions For Mumia.
    1999- Seattle, 30 de novembro, Black Bloc se engendra na destruição do distrito financeiro central.
    2000- 16 e 17 de abril, o Bloco Revolucionário Anti-Capitalista (RACB) participa dos protestos anti-FMI/BM, em Washington D.C. Entre 700 e 1000 anarquistas participaram no A16.
    2000- Primeiro de maio, Black Blocs em Nova York, Chicago e Portland.

    Todos os Black Blocs destróem a propriedade?
    Depende. O Black Bloc de Seattle, que marchou no dia 30 de novembro, nos protestos anti-OMC, foi o mesmo que colocou os Black blocs nos radares nacionais e internacionais. Eles se engendraram em uma variedade de atividades, inclusive destruição de propriedade. Isso não foi um vandalismo adolescente sem sentido – foi feito por razões políticas. Aliás, os membros do Black Bloc N30 não vinham todos de Eugene, Oregon.

    Por que os membros do Black Bloc usam máscaras?
    No ano passado, houve uns poucos e ingênuos pedidos liberais para que os anarquistas tirassem as suas máscaras. Aliás, existem muitos anarquistas do Black Bloc que nem sequer usam máscaras durante os bloqueios e ações. Esses são, por assim dizer, os camaradas “aparecidos”. Anarquistas usam máscaras por muitas razões. A principal é o reconhecimento feito posteriormente pela polícia (que filma os ativistas e cria uma ficha para cada um deles). A polícia faz isso mesmo quando existem leis proibindo (vide red squads). Máscaras promovem anonimato e identidade comum. E também protege aqueles que querem se engendrar em atos ilegais e escapar, para depois lutar em outros dias.

    Quantos anarquistas participaram da “Batalha de Seattle”?
    Se você lê a maioria dos artigos da mídia convencional, você será levado a acreditar que havia 50 anarquistas em Seattle, que vieram só para quebrar janelas. De fato, as estimativas dos conservadores mostram 4000 anarquistas participantes das atividades. O número verdadeiro é difícil de ser determinado, uma vez que não foi feito um levantamento da quantidade de participantes. Você simplesmente não pode contar qualquer camarada vestido de preto como sendo um anarquista. A maioria deles vinham da costa oeste dos EUA, mas também da América do Norte inteira. Uns poucos vieram do Reino Unido.

    Em que tipo de atividades eles estavam envolvidos?
    Sim, anarquistas estavam envolvidos na destruição de propriedade, mas essa era só uma pequena fração do envolvimento anarquista nas atividades do N30. O engraçado é que, os mesmos anarquistas que foram repreendidos pela Esquerda por quebrarem janelas, estavam entre as milhares de pessoas que, de uma forma não-violenta, bloquearam a conferência da OMC. Isso fica evidente nos vídeos que mostram o Black Bloc ajudando a bloquear o acesso ao hotel.
    A mídia corporativa sempre tem mostrado uma péssima cobertura do trabalho duro, no qual os ativistas se engendram. Eles se concentram em mostrar o espetacular, mas não podem dar a conhecer todo o processo preparatório, etc. Os anarquistas estavam engajados nas atividades dos “bastidores” e do trabalho pesado. As atividades dos milhares d anarquistas envolvidos na organização do N30 fizeram disso tudo um grande sucesso.

    Os anarquistas estavam envolvidos nas seguintes atividades:

    Mídia e comunicações: Anarquistas em Seattle armaram uma “hotline”, meses antes do evento. Outros anarquistas estavam envolvidos com o Centro de Mídia Independente e houve dúzias deles que agiram como jornalistas amadores. O CMI tem suas origens no Countermedia, o qual era uma organização mediática anarquista que foi projetada para a Convenção Democrata de 1996, em Chicago. Muitos outros filmaram as manifestações de Seattle e conseguiram realizar um curto filme com as imagens das 24 horas de ações no N30.
    Anarquistas construíram sites antes do N30 e da semana anti-OMC…esses sites ajudaram as pessoas a se prepararem para as ações, a se comunicar e a se auto-educar. Vários sites conseguiram uma cobertura contínua das ações e arquivaram a cobertura da mídia convencional também. Alguns anarquistas escreveram colunas para os jornáis, especialmente Geov Parrish, que cobriu o N30 para o Seattle Weekly e Eat The State.
    Treinamento e planejamento das ações: Anarquistas ajudaram no treinamento não-violento e aprenderam com ele também. Um dos coordenadores principais da não-violência era o DAN (Direct Action Network), o qual conta com o apoio anarquista.
    Cultural: Isso ficou mais evidente nos marionetes que estavam presentes na semana anti-OMC, em Seattle. Alguns deles foram feitos pela Art and Revolution Convergence, um grupo da Bay Area. Muitos camaradas também viram a maravilhosa bandinha anarquista.
    Ação direta: Os exemplos mais óbvios foram os prédios ocupados durante a semana em Seattle. Um desses squats aparece na rede americana TV News. A mídia chefona de seattle também deu grande cobertura dos squats e falou sobre os conflitos causados pela ação direta.
    Marcha dos trabalhadores: Anarquistas participaram na marcha, especialmente o contingente IWW (Industrial Workers of the World). A IWW ajudou a desviar alguns corre-corres dos centros comerciais para as ruas ocupadas, onde eles ajudaram a fechar a área ao redor do centro de convenções.
    Corpo médico e legal: Isso inclui tratamento dos feridos nos eventos e suporte legal para os presos durante as ações.
    Ocupação do centro: Muitos anarquistas ajudaram a impedir o encontro da OMC. Eles ajudaram a bloquear hotéis (onde se encontravam os dirigentes), ruas e cruzamentos. Muitos sofreram os efeitos dos gases e outros foram algemados enquanto bloqueavam as ruas. Mais anarquistas estavam envolvidos nos bloqueios do que na destruição de propriedade, um ponto importante que a mídia convencional e a esquerda “esquecem” de mencionar.
    Destruição de propriedade: Sem necessidade de mais comentários aqui…
    N30 no mundo: Houve dúzias de eventos no mundo inteiro, dos quais a maioria foi organizado por anarquistas.

    Táticas e estratégias:
    Black Blocs são conhecidos pelo uso de táticas e estratégias que não são conhecidas pelos ativistas tradicionais. Algumas dessas táticas são antagônicas. Outras são ilegais. Mas, foram eficientes nos protestos. Dada a ruptura, promovida pela polícia do Estado, no ativismo tradicional, mais manifestantes deveriam considerar estas táticas como meios para a sua própria proteção e segurança. Elas variam de Black Bloc para Black Bloc. Algumas mais comuns são Libertação e Corrente de Força. Libertação acontece quando quando o Bloco liberta pessoas que não querem ser presas. Isto normalmente funciona se você supera os policiais em número. Também pode funcionar porque os policiais ficam chocados em ver manifestantes tentando soltar e libertar alguém. A corrente de força ajuda o Bloco a manter coesão, e dificulta a tentativa de dispersar os manifestantes. É como uma formação policial, só que mais fluida e orgânica.

    Libertação:
    O ativismo tradicional que envolve desobediência civil tem desenvolvido uma rotina altamente coreografada quando se trata de ser preso pela polícia. Depois, nós vemos exemplos de como a desobediência civil tem se tornado OBEDIÊNCIA civil, na qual os ativistas negociam com a polícia ou mesmo perguntam como ser preso. Sem necessidade de mencionar aqui, nem todo mundo numa manifestação quer ser preso. Dada a propensão da polícia para prender manifestantes por razões arbitrárias- por marchar na rua sem permissão, usar máscaras- uma técnica é necessária para manter os ativistas fora da cadeia. Libertar um manifestante é bem simples: quando um ativista é preso, o Bloco de anarquistas age para livrar aquela pessoa dos policiais. Ás vezes, uma briga é necessária para libertar o ativista, mas se vocês têm o elemento surpresa, podem, normalmente, ser bem-sucedidos porque os policias ficam chocados ao ver que os manifestantes não estão jogando o jogo pelas regras (negociando a sua própria prisão). Libertação funciona em duas situações:
    quando existem poucos policiais e muitos ativistas envolvidos ou;
    quando o Bloco supera a polícia em número numa proporção mínima de 3:1 ou mais.
    Um ponto importante a ser ressaltado: libertar um preso é um atividade ilegal. Não seja preso tentando libertar alguém ou você vai Ter que enfrentar sérias acusações. É importante pesar os benefícios de libertar a pessoa (isso é difícil de ser feito no calor do momento). Obviamente, libertar uma pessoa é mais importante se essa pessoa fez algo que a levará a acusações hediondas.

    Corrente de força:
    Durante as manifestações, os membros do Black bloc cruzam os braços. Essa ação promove a coesão e a solidariedade nos bloqueios e dificulta as táticas dispersivas aplicadas pela polícia.

    Máscaras:
    Usar máscaras é uma tática tão eficiente que cada vez mais e mais, os departamentos policias estão implementando leis anti-máscaras. A prática do uso das máscaras é controversa dentro dos círculos ativistas. Alguns ativistas criticam o uso de máscaras pois isso contradiz a imagem do ativismo de ser sempre “aberto” e acessível, em outras palavras, “não temos nada a esconder”. Existem várias razões para explicar o uso de máscaras durante uma ação:
    para a proteção contra a investigação ilegal da polícia;
    para promover anonimato entre o grupo, que protege contra o surgimento e ascenção de um líder “carismático”;
    servir como camuflagem para os ativistas engajados em atividades ilegais durante as ações e;
    promover solidariedade dentro do Bloco.

  21. Tony Neto says:

    Manifesto Black Bloc
    1. O BB não é um grupo deliberadamente e randomicamente hostil. Nossa luta é contra as grandes corporações, instituições e organizações opressoras e em defesa de suas vítimas – de forma ativa.

    2. O BB repudia infiltrações e tentativas de desmoralização e corrupção de movimentos sociais. Frente a infiltrados e provocadores, o BB irá coibir a ação através da conversa e da denúncia. Caso necessário, empregará outras técnicas.

    3. O BB é organizado de forma horizontal e descentralizada – Não temos líderes. Todas as decisões são pautadas de forma democrática e autônoma.

    4. Acreditamos que a forma mais eficaz de atingir grandes corporações, instituições e organizações opressoras dá-se no âmbito financeiro – Daí o caráter hostil de nossas ações contra multinacionais e semelhantes.

    5. Reconhecemos o pequeno empresário como vítima do sistema. Repudiamos e tentamos a toda força coibir atos que visam prejudicá-lo.

    6. Repudiamos toda forma de política extremista – Somos contra o monopólio de riquezas e a exploração das massas.

    7. Somos contra veículos de comunicação tendenciosos e mentirosos.

    8. Declaramos inimigos quaisquer meios de repressão e/ou opressão, sejam essas de caráter físico ou psicológico.

    9. A corporação policial torna-se nossa inimiga [somente] a partir do momento em que suas ações tomam caráter opressor ou repressor.

  22. “Nós políticos colaboramos para este “casamento” perigoso entre o “sonho morto” e a “raiva viva” dos nossos jovens. Se não nos perguntarmos onde erramos, não vamos parar com esses vândalos menores e muito menos com o vandalismo MAIOR que é toda política social brasileira…” (Cristovam Buarque). “Sonho morto” e “raiva viva” têm um efeito impactante para a revisão crítica da classe política, que, infelizmente, tornou-se uma classe alienígena em relação à sociedade. No entanto, eu diria que entre os Black Blocs do Rio não há apenas ‘raiva viva’, pois não se colocariam em perigo apenas por raiva, mas porque desejam algo mais, um horizonte de dignidade social que a ausência de política social nega para a maioria dos brasileiros, como escolas públicas de tempo integral e de qualidade. É uma raiva que quer um horizonte, é uma raiva que também sonha, de pessoas que ainda não se sentem representadas ou acolhidas pelos fundamentos democrático-sociais de nossa Constituição – que, nos efeitos práticos de seus fundamentos, é apenas letra morta. Alguns os tratam como idiotas neo-esquerdistas porque sabem mais de “Guy Fawkes” do que de Marighela, mas como poderiam saber de Marighela? A figura de Marighela provoca identificação para qual geração ou tendência de lutas de esquerda? Ah, sim, a geração cuja representante é a atual presidenta do Brasil.
    Os BBs escolheram, estrategicamente, como símbolo uma figura histórica, pouco importa se foi um católico inglês que participou da “Conspiração da Pólvora”. O que vale é o preenchimento semântico do símbolo hoje, que segue uma tradição de contestação iniciada numa novela inglesa de 1841, que foi, nesta tradição, comicsiado em 1982 (num período de recessão econômica) e, depois, carismaticamente figurado em cinema pela Anarchos Production em 2006. A escolha de símbolo dos BBs me parece coerente com o tipo de educação que tiveram, num ambiente de despolitização, precarização do ensino, bestialização consumista e esvaziamento dos movimentos sociais. Para eles, a máscara de Fawkes é um símbolo contra opressão. Quem já viu o filme “V de Vingança” entenderá o apelo que a máscara tem para os BBs – e o vínculo entre vanguarda e sensibilização coletiva contra a opressão. Quem pretende ver o filme, sentirá uma atualidade figurativa imensa sobre a relação entre mídia, medo e criminalização dos protestos em nome de uma segurança pública destituída de política social consistente, que beneficia um grupo de hipócritas que enriquece com o medo (UPPs e desocupações como panaceias para a cidade da Copa) e o cinismo (centros de esporte e lazer, enquanto as escolas públicas são um lixo ratificador da subalternidade social). Os BBs do Rio são, nesse sentido, a raiva crítica contra uma dinâmica que, neste momento, está cruamente personificada no Sr. Sérgio Cabral. Eles fazem muito, considerando o pouco que tiveram de educação política num ambiente de corrupção e cinismo da classe política. Eles traduzem em corpo, símbolos e atitudes a ausência de políticas sociais consistentes.
    Num ambiente de desconhecimento histórico, despolitização, escolarização precária e crise de referências (em que até Che Guevara é deslocado como símbolo, independentemente de embasamento histórico, por torcidas organizadas de futebol no RJ), os jovens de BBs não poderiam ser simplesmente diminuídos porque não cumprem uma expectativa específica de prática social, de identidade de esquerda (anarquista, socialista, comunista ou democrático-social à moda antiga) ou de conhecimento histórico. Eles fizeram uma apropriação criativa da figura de Guy, provocaram um deslocamento simbólico para um uso social aderido à realidade que efetivamente vivem. O Guy que interessa a eles não é aquele da “Conspiração da Pólvora”, mas de “V de Vingança” (o Filme). Por outro lado, o Guy histórico também não pode ser reduzido a ‘fundamentalista religioso’ ou ‘ultracatólico’. Tais categorias devem ser usadas com muito cuidado quando se trata do ambiente de disputas por ortodoxias políticas e religiosas na Inglaterra de 1604-1606. Simplesmente definir Guy como ‘fundamentalista religioso’ ou ‘ultracatólicos’ seria o mesmo que assumir o discurso criminalizante estereotípico do governo de James I contra um “conspirador católico”. Quase tudo que se sabe sobre Guy advém dos arquivos e discursos oficiais daqueles que o prenderam. Somente mais tarde a sua figuração cultural na sociedade inglesa vai aparecer como o mascarado – um arlequim – nos calendários de festas equivalentes ao carnaval. E, em 1841, por meio de uma novela que serviu de base para várias peças teatrais posteriores, o personagem foi deslocado para ser filiado à figura do herói das classes populares. É esta tradição figurativa que forma o repertório da HQ (1982) – e do filme (2006) baseado na HQ – que é acionada pelos jovens BBs. Possivelmente, não leram a “Desobediência Civil” de Thoreau (1817-1862), mas certamente o seu anarquismo não é de “gabinete”, “misantropo” ou “escapista bucólico”.

  23. Não tenho opinião formada sobre os Black-Blocs. Tenho sobre a sua atuação no dia 11 de julho aqui no Rio: desnecessária. Eles criaram uma tensão desnecessária com a CUT que facilitou o trabalho dos P2’s.

    • Mari Santos says:

      Pense bem se a tensão não foi criada pela CUT, ao informar em seu carro de som, que aqueles manifestantes mascarados “não faziam parte da marcha”. E mesmo assim, os jovens não cederam às provocações dos senhores mais velhos da CUT, indo posicionar-se distante do carro de som, e distante das provocações. Eles só voltaram quando foram criadas duas linhas de PMs separando-os da manifestação, querendo tensionar.

      • Sinceramente, achei a atuação dos black;blocs despropositada. Porque é que eles se juntaram à CUT e não à esquerda governismo ia em bloco atrás da manifestação. Deixassem a CUT brigar sozinha com o choque.

        Sinceramente não entendi porque não permaneceram à frente da esquerda que gritava à CUT “Sem moralismos!” e foram para “proteger” a CUT do choque… essa CUT que os entregou ao choque.

        Infantilidade tática!

        • Mari Santos says:

          Não posso julgar a tática.
          Só posso dizer o que ouvi.
          Uma componente do Black Bloc trouxe à tona a questão que que eles eram a proteção do povo, e deveriam retornar e ficar próximos ao povo, independente da provocação advinda da CUT. Ainda, que esse retorno não deveria ser de confronto com a PM. E foi exatamente o que ocorreu. A PM teve que abrir a linha para deixa-los passar, e não houve conflito naquele momento.
          Se foi a CUT que os entregou ao Choque, como vem sendo mencionado em outros blogs, infantilidade política e pelegagem da CUT, que entrega aliados na luta. E pelegagem perigosa, pois pode estourar em qualquer grupo que os incomode, ou questione o poder estabelecido.
          Abraços

          • Minha cara, talvez seja este o meu desacordo com a atitude dos Black Blocs: a CUT não é aliada da luta! Eles cometeram a infantilidade de ir para o meio de um adversário e, segundo as suas palavras, para proteger esse adversário!!!

            E essa é a minha crítica aos Black Blocs e a quem os defende de TODA a crítica: apesar do reconhecimento que já obtiveram, continuam a manifestar uma inexperiência tática colossal.

            • Mari Santos says:

              Eu não disse que eles voltaram para proteger a CUT. Voltaram para proteger os manifestantes em geral, independente das provocações da CUT vindas do carro de som.

              Inexperiência, sim, talvez seja essa a melhor palavra.
              Um ativismo novo, inocente até.
              Não perceberam na CUT um inimigo em potencial.
              E não os defendo de TODA crítica. Como conversava com outra pessoa que comentava aqui, sim, é preciso criticar e pensar os Black Blocs, e como eles podem amadurecer tatica e politicamente.

              Abraço e sigamos no debate! 🙂

  24. Caio says:

    “O que precisa ser discutido, e parece esquecido nessa busca por culpados e pela criminalização de novos grupos ativistas anti-sistema, é a violência escalonante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.”

    Esta discussão é extremamente necessária. É revoltante ver a forma com a qual a truculência da policia é legitimada pelos governantes e por parte da sociedade. É assustador ver como a reação repressora e violenta do Estado é tida como natural por alguns setores da sociedade. Criminalizar indiscriminadamente o manifestante é encarar os fatos e acontecimentos de forma extremamente simplista. É abraçar o “senso comum” e o moralismo e esquecer o “senso crítico” e a racionalidade.

    Em tempos de crise sócio-política tornam-se extremamente equivocadas as análises simplistas, exatamente pelo fato destas estarem quase sempre calcadas no mesmo senso comum que está sendo questionado e desconstruído pelos movimentos sociais emergentes. É necessário, portanto, mergulhar bem mais fundo na questão durante o processo de formação de opinião.

    Mas o que mais assusta nessa situação é que aqueles que se propõe à sair do senso comum acabam por tomar uma posição extremamente simplista! Logo no inicio, o texto parecia chamar atenção à armadilha do “pensar limitado”. Porém, na ânsia de convencer o leitor a não abraçar uma opinião simplista, tenta com todas as forças leva-lo para o outro lado. Trata-se de um quase puro negaciosismo, que em nada contribui para o entendimento da questão. Ao contrário: almeja simplesmente polarizar mais ainda a discussão, convencendo o leitor à esquecer as críticas ao ativismo Black Bloc e concentrar suas criticas na “violência escalonante da PMERJ”. O que se vê neste texto é exatamente a mesma limitação que ele critica. Ora, como é possível criticar aqueles que estão tomando posições simplistas contra os manifestantes tomando uma posição simplista à favor? Afinal, o texto se propõe a instigar o pensamento critico ou a recrutar militantes?

    A “violência escalonante da PMERJ” precisa ser discutida sim e muito, mas não é só! É extremamente necessário discutir e refletir acerca de todos as opiniões existentes. É preciso sim discutir sobre a legitimidade das ações deste tipo de protesto ou ativismo Black Bloc de forma mais profunda. Não adianta nada chamar atenção pra armadilha ideológica de se criminalizar um grupo e não chamar atenção pra armadilha ideológica de se abraçar as quase as cegas um ponto de vista qualquer.

    Em outras palavras, não tem essa de “O que precisa ser discutido é…”. TUDO precisa ser discutido, TODA opinião e ativismo precisa ser discutida, se não continuaremos a servir de massa de manobra, só que nas mãos de um grupo diferente…

    • Mari Santos says:

      Caio,
      Considerar que a opinião de seu interlocutor é simplista, é se arrogar conhecedor absoluto de uma situação em que ninguém é pleno conhecedor, pois ainda está acontecendo, as manifestações ainda ocorrem, e não há clareza de como vão terminar. Discutir a legitimidade de determinadas ações é ainda mais arrogante, pois é afirmar nas entrelinhas que existem as certas e as erradas.
      Quando chamo atenção para a “violência escalonante da PMERJ”, não o faço como mera observadora, mas como alguém que vai às ruas e recebe essa violência diretamente. Como quem trabalha com movimentos sociais que são criminalizados, e tem seus integrantes assassinados como se fosse algo corriqueiro.
      Em momento algum digo: NÃO DISCUTAM OS BLACK BLOCS. Muito pelo contrário.
      Peço que olhem, entendam, estudem, aproximem-se, e DISCUTAM, SIM! Mas não criminalizem.
      Em momento algum digo: UNAM-SE A ELES, SEJAM LINHA DE FRENTE! Não o faço, até por entender que o que vejo é processo.
      E por ser processo, ainda não entendo perfeitamente a forma. Mas posso me propor a analisá-la através do MEU ponto de vista.
      Ao invés de taxar um texto de simplista por não seguir o rumo que você deseja para ele, talvez você pudesse escrever algo que fosse um adendo, e não um dedo acusatório, que acrescenta muito menos que o “simplismo” que você acusa.
      “O que precisa ser discutido…” nesse contexto, foi o que me propus a discutir num momento de efervescência, entre a rua e a casa. Ao perceber que a mídia convencional começa a demonizar e eleger seu “vilão”.
      Em outras palavras, existe o que precisa ser discutido no momento. E isso que considero importante ser discutido.

      • Caio says:

        Mariana, em momento nenhum tive a pretensão de “apresentar a verdade”. No momento acredito que discutir a legitimidade de certas ações é o contrario da arrogância, é simplesmente assumir que nenhuma delas esta isenta de críticas. Perceba que eu disse “DISCUTIR a legitimidade” e não “DETERMINAR a legitimidade”, o que pressuporia que você tem o poder de ditar o que está certo e o que está errado.

        Como disse anteriormente, também considero importante a discussão que você traz, e neste quesito só tenho a apoiar o seu texto, como fiz nos primeiros dois parágrafos do meu comentário anterior. Já no que tocam as minhas cíticas, é verdade que em momento nenhum você disse “não discutam os Black Blocs”, mas me pareceu sim querer desqualificar essa discussão ao afirmar “Esse é o debate”.

        Em momento nenhum meu objetivo foi desqualificar por completo o seu texto. Meu “apontar de dedo” é semelhante ao seu ao chamar atenção daqueles que criminalizam (também ao meu ver de forma equivocada) o ativismo dos Black Blocs. Estou chamando atenção ao fato de você propor uma discussão alternativa desqualificando uma outra também bastante importante (mesmo que esta não tenha sido a sua intenção). Este é o meu adendo. Desculpe se te soou muito agressivo ou ofensivo pois não era minha intenção.

        • Mari Santos says:

          Ok, Caio
          O “importante” é manter o debate fluindo.
          Nem sempre o texto é compreendido como a gente quer, ou como a gente gostaria que fosse compreendido quando escrevemos.
          E uma boa crítica sempre vai ser assimilada e observada para o próximo.
          Eu não quero, e nem pretendi desqualificar o debate sobre os Black Blocs, apenas quis acertar um pouco a mira da metralhadora giratória dos que andam escrevendo por aí, sem se focar na violência policial.
          Abraços

  25. Eu estava lá na manifestação do dia 11/07/2013 esses “PMs´´ foram super agrecivos até com quem não tinha nada a ver .Após a represão no Palacío guanabara , eu e mais 25 pessoas voltamos para a praça do largo do machado ; lá encomtramos mais pessoas. e na volta ao palacío esse número foi aumetando cada vez mais até que nós criamos uma nova manifestação . iae du mada a policía começo a atirar em todos novamente .Entrei em uma rua , os policías nos sercaram , eu é mais 7 ou 8 pessoas entramos um predio ae por conhesidencia ali morava um reporter que chamo a emprensa só assim nos conseguimos sair de lá .

  26. Uma coisa não consigo entender e é como se existisse uma incoerência nessa história toda. Ok, entendi o q é o BB. Primeira pergunta: todo anarquista nas passeatas participam do BB ou existem outros grupos? E falando mais especificamente da “verdade velada” ou incoerência que me confunde: já fui em algumas manifestações e em todas que estive presente próximo à linha de frente sempre que começou a violência foi do nosso lado, ou seja, da manifestação, jogando garrafas e objetos de tamanhos similares e não eram um ou dois infiltrados foram grupos de no mínimo dez pessoas jogando coisas nos PMs (logo após vinha a PM cumprindo suas ordens e reprimindo de forma totalmente desproporcional e descabida). É o pessoal do BB e joga esses objetos na PM ou existe outro grupo q começa isso? Os dias que presenciei isso foram: final da Copa na Av. Maracanã e no Palácio Guanabara no dia da manifestação dos sindicatos, no Centro. Entendo o movimento anarquista e não julgo ninguém como vândalo, apesar de ser da linha pacifista (não passiva), mas como presenciei momentos em que demos os motivos que a PM queria para começar o show de horrores fico meio confuso se existe mesmo alguma estratégia nisso tudo. E se existe questiono seriamente a sua eficiência, visto que a “Propaganda pelo Ato” está gerando mais “tiros pela culatra”, afastando pessoas das manifestações pelo medo de novos conflitos, do que trazendo benefícios (me refiro especificamente nos casos em que os manifestantes, BB ou não, começaram o conflito). Então, podem ajudar a esclarecer esta questão e me ajudar a entender melhor o lado dos BB no meio da confusão? Obrigado.

    • Mari Santos says:

      Vamos lá. Respondendo suas perguntas.
      1) Não, não são todos os anarquistas que estão nas manifestações que participam do Black Bloc.
      Existem diversos outros grupos anarquistas nas manifestações.
      E existem não-anarquistas que fazem parte do Black Bloc.
      2) Na manifestação da final da Copa, antes que qualquer confusão eclodisse, estávamos (integrantes Das Lutas) em frente ao Choque na Av. Maracanã. Temos diversas fotos dos manifestantes deitados no chão, em posição nada ameaçadora. Um PM carregava um porrete cheio de pregos. Outro começou a bater nos manifestantes com o cano da arma de bala de borracha. Acredito que o revide, de diversos manifestantes, não necessariamente BB, tenha sido após essa ação. Entenda… a munição de baixa letalidade não funciona ao ser atirada de perto. É preciso uma certa distância dos manifestantes para que bombas e balas de borracha sejam atiradas. Por isso sempre é criado um tensionamento para que os manifestantes se afastem um pouco e criem um espaço viável para o ataque.
      3) Na manifestação no Palácio Guanabara, eu fiquei retida no Centro, no meio do bombardeio do Choque, mas o que diversos amigos jornalistas relataram em seus blogs e perfis de Facebook foi que um policial infiltrado jogou um morteiro para cima do Choque, criando o fato necessário para que começasse a repressão.
      Espero ter ajudado.
      Abraços

  27. Deixando claro q reconheço os méritos do BB dada a eclosão da violência policial. Só consegui sair da Presidente Vargas, no dia da grande manifestação no Centro do RJ, por conta deles que retardaram a PM (td bem que fui caçado por PMs no Campo de Santana, mas nesse dia quem não foi?). Bom é isso fica a quetsão anterior. vlw

  28. […] por Mariana Corrêa dos Santos* "O que precisa ser discutido, e parece esquecido nessa busca por culpados e pela criminalização de novos grupos ativistas anti-sistema, é a violência escalonante da P…  […]

  29. BLACK – BLOCs & LANCEIROS NEGROS, (revolução farroupilha nos pampas) a policia trabalhando com espionagem A MANDO DOS COMANDOS E GOVERNOS CORRUPTOS,…objetivos, A PERPETUAÇÃO DOS DESMANDOS DO PODER E CORRUPÇÃO NO PAÍS, ATÉ QUANDO ?

  30. Desde 1968 a PM carioca (agora fluminense) age de maneira truculenta, servindo aos interesses dos ditadores de plantão: naqueles anos aos militares (que chegaram ao cúmulo de militarizar o Corpo de Bombeiros) e agora aos interesses do sistema e, em especial, ao projeto de poder do desgovernador Cabral e seu lamentável secretário de segurança. A boa notícia é que, desde 1968, a população do Rio não vem se deixando enganar por esses bandidos fardados, travestidos de gente da lei e muito menos essas autoridades corruptas e canalhas que assolam esse país. A reação da classe média à violência policial já começou e, tal como nos anos anteriores, esses gorilas se verão acuados e sem apoio. Parabéns pelo ótimo texto.

  31. […] por Mariana Corrêa dos Santos*, no Das Lutas, via Facebook […]

  32. […] E o que é que pode dar errado? Há um outro lado dessa dimensão constitutiva da violência: a ação policial, não mediada por lideranças políticas responsáveis e capazes (e está claro a ausência disso em cidades como o Rio de Janeiro), pode criar uma realidade política inexistente no Brasil: grupos organizados de guerrilha urbana, que se armam para enfrentar a polícia. Recentemente, em debate sobre as manifestações no Instituto de Estudos Avançados da USP, Massimo Canevacci, antropólogo italiano, mencionou o conceito de mimese como algo importante na compreensão do que está ocorrendo no Brasil, em sua relação com eventos internacionais, como o que ocorre na Turquia, por exemplo. Isso imediatamente me trouxe à mente algo que vi em minha pesquisa de campo na periferia de Buenos Aires, junto a torcidas organizadas de futebol. Encontrei uma correlação entre o momento em que a polícia militar instalou delegacias nos bairros de periferia e começou uma história de conflito com as torcidas locais, e o início do uso de armas de fogo pelas mesmas torcidas (coisa que anteriormente era vista como sinal de covardia). Obviamente é difícil afirmar que existe uma relação causal entre uma coisa e outra; de qualquer forma, a ideia de equilíbrio de forças é parte fundamental do discurso dos líderes de torcidas mais velhos. Minha hipótese é que a polícia, que obviamente não tem qualquer interesse em igualar forças, mas sim de subjugar o outro, ao inserir uma desigualdade nesse panorama de busca do equilíbrio de forças, acabou fazendo com que as torcidas buscassem as mesmas armas de combate, o que resultou na adoção de armas de fogo pelas mesmas. Novamente, trata-se apenas de uma hipótese. Mas vejamos o que está ocorrendo no Brasil: nas primeiras manifestações de junho, não havia qualquer intenção, por parte dos manifestantes, de entrar em combate com a polícia. Foram brutalizados; e a brutalização tem se repetido, por várias semanas consecutivas, no país todo. Como resultado, o que temos visto é a disposição crescente, por parte de grupos específicos (e cada vez maiores), em preparar-se para o combate com a polícia: do uso de vinagre como instrumento de resistência, nas manifestações de junho, passamos a ver o uso de rojões e coquetéis molotov, como na última quinta (11), no Rio de Janeiro. Esses grupos estão mimetizando a ação da polícia, e isso se dá porque as lideranças políticas estão com suas cabeças enterradas, como avestruzes, e deixaram à polícia a responsabilidade de fazer política pública de segurança. Ou seja, não há interlocução; a polícia impõe a violência como única forma de comunicação. O Brasil pode estar a caminho de criar o seu Weather Underground, e isso é tudo o que a polícia precisa para justificar níveis ainda mais altos de violência contra a população civil, em razão do fortalecimento de agendas da direita. É essencial que as novas lideranças políticas, dos movimentos sociais, busquem atuar para desarticular essa guerrilha urbana nascente, de modo que o movimento todo não caia nisso que é, claramente, uma armadilha. […]

  33. Joel Nunes says:

    Médicos atendem criança intoxicada por gás na Cinelandia 11/07/2013

    http://www.youtube.com/watch?v=JYnIPrcOrCI

  34. Mara says:

    Você odeia “os vândalos” que a mídia cita repetidamente dia após dia.
    Até ir a uma manifestação e descobri que os vândalos são os Polícias.
    Até ouvir o Choque saindo do batalhão gritando “GUERRA GUERRA GUERRA’,
    Até começar o tumulto e você sentar no chão com as mãos para o alto, pq leu na internet que é seguro, e aí toma varias balas de borracha nas costas.
    E de repente aqueles “vândalos” aparecem com um escudo te puxando para “fugir” , manda vc correr, e ficam na frente retardando a polícia.

    VÂNDALO É O ESTADO !! VÂNDALO É A MÍDIA QUE TE MANIPULA E CAGA UM MONTE DE MERDA NA SUA CABEÇA.
    A MÍDIA NÃO ESTÁ DO LADO DO POVO !!! NUNCA ESTEVE !!!

    FORÇA BB !!!!

    “A desobediência, para quem conhece a história, é a virtude específica do homem. É pela desobediência que ele progrediu – pela desobediência e pela revolta.”
    Oscar Wilde

  35. […] por Mariana Corrêa dos Santos*, no Das Lutas, via Facebook […]

  36. […] por Mariana Corrêa dos Santos*, no Das Lutas, via Facebook […]

  37. […] E o que é que pode dar errado? Há um outro lado dessa dimensão constitutiva da violência: a ação policial, não mediada por lideranças políticas responsáveis e capazes (e está claro a ausência disso em cidades como o Rio de Janeiro), pode criar uma realidade política inexistente no Brasil: grupos organizados de guerrilha urbana, que se armam para enfrentar a polícia. Recentemente, em debate sobre as manifestações no Instituto de Estudos Avançados da USP, Massimo Canevacci, antropólogo italiano, mencionou o conceito de mimese como algo importante na compreensão do que está ocorrendo no Brasil, em sua relação com eventos internacionais, como o que ocorre na Turquia, por exemplo. Isso imediatamente me trouxe à mente algo que vi em minha pesquisa de campo na periferia de Buenos Aires, junto a torcidas organizadas de futebol. Encontrei uma correlação entre o momento em que a polícia militar instalou delegacias nos bairros de periferia e começou uma história de conflito com as torcidas locais, e o início do uso de armas de fogo pelas mesmas torcidas (coisa que anteriormente era vista como sinal de covardia). Obviamente é difícil afirmar que existe uma relação causal entre uma coisa e outra; de qualquer forma, a ideia de equilíbrio de forças é parte fundamental do discurso dos líderes de torcidas mais velhos. Minha hipótese é que a polícia, que obviamente não tem qualquer interesse em igualar forças, mas sim de subjugar o outro, ao inserir uma desigualdade nesse panorama de busca do equilíbrio de forças, acabou fazendo com que as torcidas buscassem as mesmas armas de combate, o que resultou na adoção de armas de fogo pelas mesmas. Novamente, trata-se apenas de uma hipótese. Mas vejamos o que está ocorrendo no Brasil: nas primeiras manifestações de junho, não havia qualquer intenção, por parte dos manifestantes, de entrar em combate com a polícia. Foram brutalizados; e a brutalização tem se repetido, por várias semanas consecutivas, no país todo. Como resultado, o que temos visto é a disposição crescente, por parte de grupos específicos (e cada vez maiores), em preparar-se para o combate com a polícia: do uso de vinagre como instrumento de resistência, nas manifestações de junho, passamos a ver o uso de rojões e coquetéis molotov, como na última quinta (11), no Rio de Janeiro. Esses grupos estão mimetizando a ação da polícia, e isso se dá porque as lideranças políticas estão com suas cabeças enterradas, como avestruzes, e deixaram à polícia a responsabilidade de fazer política pública de segurança. Ou seja, não há interlocução; a polícia impõe a violência como única forma de comunicação. O Brasil pode estar a caminho de criar o seu Weather Underground, e isso é tudo o que a polícia precisa para justificar níveis ainda mais altos de violência contra a população civil, em razão do fortalecimento de agendas da direita. É essencial que as novas lideranças políticas, dos movimentos sociais, busquem atuar para desarticular essa guerrilha urbana nascente, de modo que o movimento todo não caia nisso que é, claramente, uma armadilha. […]

  38. Republicou isso em reblogador.

  39. […] *Publicado originalmente no Das Lutas […]

  40. Eu só fico com receito (receio, não medo) dessa tendência ditatorial que existe em todos nós. Que a polícia se disfarçaria, quem ignorava? Mas dizer que os vândalos eram todos policiais, exageramos um tanto, não? As polícias gritam “guerra, guerra, guerra” como a torcida grita “mengo, mengo, mengo”. Distorcer isso é conduzir (ou tentar) opiniões. Pintar os BB de “defensores das massas” doeu. E tentar entender os protestos como um sinal de revolução, o sistema ruindo, os políticos emagrecendo de medo e o jaspion em luta eterna contra a globo. Tem muita pira e pouco pirão. Mas é só uma opinião.

    • Mari Santos says:

      Mariel,
      Não acho que eu tenha tentado conduzir opiniões. Apenas ofereci a minha, como parte dessa massa amorfa que esteve e está nas ruas. Nem tentei apresentar minha opinião como pesquisadora, pois acho que ter “certezas” definidas sobre algo em processo é um erro tático. Tudo está mudando muito rapidamente. Não vejo os protestos como um sinal de revolução, mas também não descarto essa possibilidade. Repito, um processo social não se entende assim, no estalar de dedos. Vejo muito mais pirão que pira. Muito mais produção efetiva que maquiagem de Giraya. Mas essa é a minha opinião.

  41. lessa says:

    Amo os Blakc bloc, Sempre serei uma “vovó” Blakc Bloc Já chega de “verniz social” Os jovens, independente da ideologia política devem protestar. Um país que não protesta, é um país MORTO. Foi graças aos Black Bloc que esse gigante acordou.