Das Lutas
Coletivo Autônomo de Mídia
Marcha das Vadias – Niterói (a primeira vez nunca será esquecida)

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*texto por Kátia Flávia

O que querem essas mulheres?

Essas loucas, feministas, feminazis, femistas, essas bruxas, amantes, esposas, mães, filhas, tias, essas vacas, putas, vadias.

Essas bruxas de outrora.

O que querem? Gritando nas ruas, seios de fora, dançando, pulando, correndo, cantando. O que elas querem, essas mulheres?

Silenciadas das literaturas, das filosofias, apagadas dos processos e livros de história, esmaecidas nas artes, enclausuradas nas casas, nas cozinhas, nas maternidades – predestinadas pelo Deus homem, aos homens; agredidas, escorraçadas, violadas, acachapadas, violentadas, apagadas, excluídas, ignoradas. O que querem essas vadias?

Ao lado de Marx, de Nietzsche, Freud, Rilke, Rivera, Heidegger, Sartre, Bakunin: Rosas, Fridas, Lou-Salomés, Hannas, Simones, Emmas, quem se lembra delas? E de mais delas? E de outas delas?

O que querem essas mulheres aos berros, desnudas, amando e odiando homens, ou desejando outras mulheres, o que querem?

Elas querem mostrar os peitos e não serem agredidas, elas querem dar a buceta, sentir prazer, gozar, se masturbar, elas querem roupas curtas sem serem estupradas!, elas querem beber cerveja, andar sozinhas, sentar no bar, chupar, dar o cu, amar, desamar. Elas querem trabalhar, ver futebol, parir, não parir, dar o filho pro pai cuidar, dar o filho, abortar, viajar. Elas querem um namorado, uns namorados, um ou dois amantes, sexo com desconhecidos, orgias, menages, fidelidade. Elas querem estudar, se formar, fazer o doutorado e dar: elas querem dar. Querem não cuidar do lar, não se casar, ou cuidar, e casar, elas querem escrever livros, publicar, fazer ciência, construir prédios, pilotar e dar. Elas querem dar. Elas querem fazer tudo e dar. Elas querem, sobretudo, dar. Dar ao mundo seu sexo, sua presença, sua luta, seu protagonismo. Elas querem dar e gozar.

Mas são mesmo umas vadias, essas mulheres.

E, mais uma vez, vestidas ou nuas, pintadas ou de cara limpa, escrachadas ou sérias, mas juntas, num corpo só, coletivo amalgamado pelo sentimento de que algo nos une em nossas tantas diferenças, estivemos nós lá: nas ruas, afrontado a miséria política, o descaso, a violência, a hipocrisia. Pedindo creches, empregos, salários justos, igualdade, respeito. Caminhamos da Cantareira até a Prefeitura de Niterói, entoando cânticos de louvor à liberdade de seios, úteros, bucetas, gentes, mulheres. E, nos somando em rede e em solidariedade feminina e feminista às mulheres em marcha pelo mundo inteiro, pelo primeiro ano de vários vindouros, as vadias pararam o centro de Niterói, e toda a região foi obrigada a ouvir nossas vozes, que, nesse momento, e pra sempre, é uma só voz: a de todas as mulheres desrespeitadas, aniquiladas, apagadas, desmerecidas, escarnecidas, queimadas, enforcadas, estupradas, mortas, violentadas, hoje, ontem e até nunca mais. Mais uma vez, em mais um lugar, nós nos erguemos! E nos juntamos umas as outras pra avisar: o machismo vai acabar!

Quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede.
Não há revolução social sem feminismo.

Marcha das Vadias, 26 de setembro de 2013 – Niterói

*Kátia Flávia é colaboradora Das Lutas

1 Comment to “Marcha das Vadias – Niterói (a primeira vez nunca será esquecida)”

  1. As vadias em marcha. Parece ser um furacão ao contrário: por ande passam, constroem coisas melhrores