Das Lutas
Coletivo Autônomo de Mídia
DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?

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*Texto por Luis Carlos de Alencar

Aos grupos do lado de cá:

Compas, não se assustem com o achaque da mídia corporativa, ela sabe o que faz; não se admirem com os intelectuais orgânicos dos partidos, eles sabem o que dizem; não se impressionem com a burguesia que lá do alto de seu campanário começa a tremer de medo, ela sempre soube o que faz; não se preocupem com a camarilha eleitoral que se arvora a dona do caminho certo para as mudanças, ela sabe o que temer; não vacilem com a polícia pretoriana, cães fardados, racistas  assassinos, nós já vivemos todos os dias o que eles fazem; não temam os congressos brasileiros e o recrudescimento das leis engaioladoras, já faziam isso, sabemos. Compas, os grupos do lado de cá, somos diferentes, várias pautas, modos de agir, táticas diversas, pensamentos divergentes, nós não sabemos o que virá, mas se for para virar, viraremos juntos: ônibus, camburão, mídia corporativa, intelectuais orgânicos dos partidos, a burguesia, a camarilha eleitoral, a polícia, os congressos, e tudo o mais que durante todo esses 25 anos de democracia representativa brasileira não nos permitiu avançar na luta contra o autoritarismo e na defesa do bem comum contra sua expropriação pelo capital neoliberal. Queremos mais! Democracia radical e o fim do capitalismo.

Aos grupos do lado de lá:

Continuem, nós já sabíamos do que vocês são capazes para resguardar vossos privilégios. Continuem, defendam a sua zona de conforto, a malta está nas ruas, a turba está chegando, os Piratas do Tietê não deixarão pedra sobre pedra. Continuem, façam o discurso cínico que sempre sedimentou o autoritarismo na sociedade brasileira, aquela mesma postura que assentou as vigas da exploração do capital sob todos os cantos em que nossos olhos podem pousar, em nossas casas, em nossas ruas, em nossas cidades, no campo, no céu, no ar, em nossos corpos negros, indígenas, sodomitas, femininos, travestidos. Continuem, vocês sabem muito bem o que podem perder. Mas a maioria de vocês já perderam uma coisa: a dignidade, a capacidade de se distinguirem, foi por terra toda a diferença. Nós mostramos a vocês, que sabem, que agora não são distintos dos seus. Vocês jogam as bombas, atiram as balas, miram em nossas cabeças, querem-nos ajoelhados para que possam continuar vossa caravana da morte. Vocês são nossos inimigos também.  E a morte? Nunca a tememos. Essa sempre esteve aqui, do nosso lado. Brasil, país onde 80 mil pessoas morrem assassinadas todos os anos. Todas elas estão aqui, do nosso lado agora. Nós não somos mil, 5 mil, nem 100 mil marchando: nós somos os milhões que tombaram na sanha cruel da vossa indiferença, da cumplicidade assassina de quem atira e de quem faz de conta que não atira.

E aos que acham que não estão em nenhum dos lados: sejam rápidos, essa história não permite coadjuvantes. Somos todas protagonistas. De um lado ou de outro.

7 Comments to “DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?”

  1. O texto é lindo. Dos dois lados. Agora tem uma coisa: é um texto.

    • Mari Santos says:

      Olá Mariel, obrigada pelo feedback positivo.
      Fiquei curiosa, entretanto, com a parte final do seu comentário: o que mais poderia ser, que não um texto?
      Abraços

      • Um texto é só um texto, os meus e os teus, os de qualquer um. Quis dizer que é preciso que os autores não devem se contentar com o que escrevem, mas o que dizem com com as palavras deve representar o que fazem. Como gostei muito do que você escreveu, achei que te devia aquele comentário.
        Abraços

  2. Esqueceram um detalhe: de nada adiantam ações sem nexos, sem organização. As ações em si, contra os símbolos do Capitalismo, até são interessantes, mas destruir sem argumento não gera visibilidade na opinião pública. Gostei do texto, parcialmente. Espero que não culmine em mero tom poético.

    • lcfdaf says:

      Oi, Reginaldo, bem sabemos que também não se trata ali, nas manifestações, de ações sem nexo, nem organização, basta a gente olhar com mais cuidado. E claro o texto, sim, culmina num tom poético que eu discordo ser mero, mas vale a opinião. Quanto às mobilizações, já culminaram em tantas coisas…e, se a gente vingar, vai culminar em outras tantas, né? Grande abraço

  3. 5atriz says:

    Belo texto inspirador, um colírio. Brado para uns, despertar para outros. Poético pois transformador; enriquece o lado de cá, incomoda o de lá: daqueles tão seguros quanto maduros.