Das Lutas
Coletivo Autônomo de Mídia
O Grande Baile Funk – Arrastão contra o Racismo

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Por Lena Azevedo, jornalista, colaboradora do Coletivo Das Lutas em terras capixabas.

“O Grande Baile Funk – Arrastão contra o Racismo” reuniu hoje centenas de pessoas em frente ao Shopping Vitória. O baile foi um protesto. No dia 30 de novembro, meninas e meninos da periferia participavam de um baile funk no píer atrás do shopping, quando policiais da Tropa de Choque, Batalhão de Missões Especiais e Rotam chegaram. Amedrontados, dezenas de jovens correram para dentro do estabelecimento. A PM entrou e saiu prendendo quem ela achava que tinha perfil de funkeiro: negros, de bermuda e boné. Os meninos foram levados em fila indiana, sob aplausos vergonhosos de frequentadores, para a Praça de Alimentação e colocados sem camisa sentados para a revista.

O Arrastão contra o Racismo foi organizado na terça-feira (2/12), em uma reunião que contou com 150 pessoas de diversos grupos, como lembrou Lula Rocha, coordenador do Fejunes. No caminho para o Grande Baile, no posto da PM da Barra do Jucu, em Vila Velha, uma blitz tumultuou o trânsito. Carros e motos parados. Chamou a atenção que o único a ser revistado com mãos na cabeça era negro. No chão, havia apenas o celular do rapaz. Ao seu lado, um motoqueiro branco mostrava a carteira de habilitação e sorria para outro policial. O racismo diário, a polícia e os suspeitos de sempre.

O baile começou com umas 50 pessoas. Muitos cartazes contra o genocídio de negros, ressaltando o funk e condenando a cobertura preconceituosa da imprensa. 15 MCs se revezaram no palco. Abelhão abriu dizendo que aquele ato era contra o racismo, a homofobia e o machismo. Ele defendeu que os grupos deviam unificar as forças. O funk foi rolando e o povo chegando. Calcula-se que mais de 500 pessoas tenham passado por lá. Funk da paz, das antigas, proibidão e até romântico, como o do MC Sapão pra namorada. Na calçada cabe tudo. Um fiscal da prefeitura queria impedir o ambulante de vender água e refrigerante. Os manifestantes fizeram coro contra a fiscalização. E o vendedor ficou.

No evento tinha gente de todo tipo. Defensores públicos foram lá pra garantir os direitos dos funkeiros e ver se tinha alguém vítima do episódio do shopping para entrar com uma ação contra a PM. Muitos saíram do interior do estado, como o pessoal de Colatina, além de moradores da Grande Vitória, para mostrar apoio ao arrastão contra o racismo. Algumas coisas são curiosas. O locutor ia falando dos grupos presentes ao evento. Um rapaz vestido de preto grita lá de baixo que ele era black bloc. Não é preciso lembrar que black bloc é uma tática e não movimento. Mas, cada um representa o que bem quiser.

Gays e lésbicas também foram. Mexeu com um, mexeu com todxs. Convenhamos que foi meio difícil engolir determinadas músicas. Alguém precisa dizer para alguns funkeiros, que também são discriminados, que não vale fazer músicas que incentivam o machismo e a homofobia. O proibidão pode ser muito mais criativo sem o preconceito.

A PM ficou do outro lado da pista, ouvindo palavras de ordem, o batidão e o grito pela desmilitarização da polícia, o mais entusiasmado de todos. Quatro viaturas. E só. E nem precisava. O baile foi tranquilo, como tantos são quando não são atravessados pela violência do racismo e do preconceito.

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